Autora: Maria Isabel Limongi
Editora Alameda, 2023.
Estamos acostumados por uma longa tradição da história da filosofia a considerar Hume como a expressão mais alta do chamado “ceticismo inglês” e cujo mérito maior teria sido o de ter despertado Kant do “sono dogmático”.
Maria Isabel Limongi nos traz um outro Hume, um desconhecido entre nós: não apenas o pensador do Tratado sobre a natureza humana e da Investigação sobre os princípios da moral, nem simplesmente o grande historiador da instituição do Estado Inglês, mas a articulação dos fios de suas obras numa tecelagem única, fazendo-nos ver o filósofo que inaugura a compreensão do conceito de justiça não mais em termos morais e econômicos, mas como processo histórico, instituição social e política.
Clareza, rigor e elegância da escrita, conhecimento profundo da obra de Hume e de seus contemporâneos, Maria Isabel Limongi toma posição tanto com relação aos demais filósofos anteriores e posteriores a Hume quanto com relação aos comentadores de sua obra, como é o caso, entre vários exemplos, da minuciosa e elaborada discussão sobre o que há de ser uma teoria da justiça em Hume considerando-se o que, em nossos dias, tem sido desenvolvido a partir da obra de John Rawls.
Limongi parte em busca do movimento pelo qual Hume pensa a instituição da regra e da norma, evidenciando não apenas Hume mais próximo de Maquiavel do que de Grotius, Puffendorf e Locke, mas também o (surpreendente) significado sociopolítico da teoria humeana sobre o juízo de gosto.
Estamos, pois, diante de um livro não apenas inovador, mas decisivo sobre o papel inaugural da filosofia de Hume na formação do pensamento político moderno.
Marilena Chaui
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