A palestra do Prof. João Duarte versa sobre a relação entre o Iluminismo e o romance moderno. Sua hipótese é que aquele movimento histórico e essa forma literária guardem afinidades mais profundas do que sua mera coincidência cronológica, i.e., o fato de que ambos tomem forma e se consolidem entre o final do século XVII e o final do século XVIII. Se o Iluminismo, tal como o compreendemos, se caracteriza menos como um conjunto coerente de doutrinas (racionalismo, empirismo, secularismo, liberalismo etc.) e mais como uma forma particular de autoconsciência histórica, marcada por uma relação crítica com a atualidade, o romance moderno é talvez a forma em que essa reflexividade melhor se expressa. Mais do que simplesmente assimilar a temporalidade historicista (o cronótopo moderno de Bahktin), figurando o tempo como devir transformativo, o romance se coloca como tarefa pensar o presente, confrontando a imaginação com o que se toma por realidade a partir da diferença que permite vislumbrar. Para o Professor Duarte, a discussão dessa hipótese exige, numa vertente teórica, uma abordagem que aproxime a teoria e a historiografia do Iluminismo daquelas do romance; e, noutra, analítica, um exame da produção romanesca setecentista, que se dedique a identificar os elementos e procedimentos que configuram o tipo de reflexividade cuja emergência se atribui ao Iluminismo.
