Em O Jardim das Hespérides, a historiadora Laura de Mello e Souza articula quatro dimensões do imaginário do século XVIII acerca do território de Minas Gerais, num livro que reflete sobre a relação dinâmica entre homem e natureza e seus desdobramentos para a constituição social e cultural da região mineira. No século XVIII, a natureza das Minas Gerais deslumbrava por suas riquezas reais e fantasiosas ao mesmo tempo que inspirava temor nos colonizadores frente ao insondável da região. No imaginário dos homens que se dedicavam a desbravar a terra, o território era apercebido sob uma névoa tanto paradisíaca quanto monstruosa que impulsionava o avanço das fronteiras e deslocava o mito do Éden perdido para um lugar sempre além. Conforme Minas era devassada, o horror ao desconhecido se arrefecia para ceder lugar a empreitadas de exploração predatória e extermínio de povos autóctones. Em meio à sanha colonizadora, uma emergente afetividade pelos encantos naturais mobilizava a produção de obras visuais e escritas, que enraizavam os novos habitantes nesse pedaço da América.Em O Jardim das Hespérides, Laura de Mello e Souza apresenta Minas Gerais num movimento de quatro perspectivas que se misturam ao longo do curso histórico e concorrem para demonstrar como a relação com o mundo natural participou da formação sociocultural mineira. “Com O Jardim das Hespérides, Laura de Mello e Souza evidencia uma vez mais a refinada desenvoltura com que tem se dedicado à compreensão histórica das Minas Gerais coloniais.” — Caio Boschi